Minha experiência com o lota

Lota é este jarrinho:


Com ele se realiza um dos kriyas do yoga, chamado jala neti. O jala neti consiste em deixar correr água pelas fossas nasais de modo a higienizá-las e descongestioná-las.

Completei recentemente minha primeira semana de jala neti diário. O objetivo deste post é compartilhar minha experiência com esse kriya.

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O início é estranho. Desde que aprendi a nadar não tinha a sensação da água percorrendo minhas fossas nasais e a lembrança daquela época não é das mais agradáveis. No entanto, pesquisando e conversando com pessoas experientes pude descobrir que o jala neti é muito menos desagradável, totalmente seguro e muito eficaz. Mais tarde a experiência confirmou o que a teoria sugeria.

Superada a fase da estranheza teórica, decidi comprar este lota na escola YogaFlow. Lá o pequeno jarro de louça custa R$40. É possível comprá-lo a preços melhores pela internet, mas como a diferença fosse pequena e eu não confiasse inteiramente em compras de artigos frágeis pelo Correio, preferi comprar pessoalmente. É possível também improvisar um lota com outros tipos de vasilhames, mas é sempre adequado poder usar um jarro especialmente feito para o procedimento desejado.

O jala neti é feito com água pura levemente salgada. Uma colher de café rasa basta para um lota cheio (aproximadamente 400ml). Deve-se evitar água da torneira por causa do cloro, que pode irritar bastante as fossas nasais; prefira água mineral. A água deve ser aquecida até estar morna, quase quente, mas numa temperatura confortável ao contato com a pele. Mistura-se o sal de cozinha até a dissolução completa. O próximo passo é realizar o kriya propriamente dito.

O jala neti é realizado inserindo o bico do lota numa das narinas, abaixando e inclinando a cabeça de modo que a água escorra naturalmente, entrando por uma narina e saindo pela outra. Durante o processo a respiração é feita pela boca; nenhum esforço é necessário para que a água flua e realize a limpeza.


Com um lota cheio (400ml) costumo dividir a sessão em quatro partes, alternando aproximadamente 100ml em cada narina. Isso dá tempo da água fluir pelas fossas nasais com pressão relativamente constante em todo processo; os quatro intervalos permitem que a água escorra naturalmente quando o lota é retirado da narina. Outra opção é dividir o volume em apenas duas partes; a desvantagem é que a segunda parte necessariamente terá pressão menor, podendo oferecer resultados desiguais em cada narina. Sugiro, no entanto, que o praticante experimente e descubra o que é melhor para si.

Ao final da sessão deve-se assoar o nariz levemente. Algumas pessoas recomendam o kapalabhati, tendo o cuidado de não exagerar na pressão ao soprar o ar pelas narinas. O kapalabhati é outro kriya, isto é, outro exercício de purificação e limpeza interna. Associado ao jala neti, pode fazer milagres.

Um dos principais riscos ao realizar o jala neti é a água chegar aos ouvidos. Dependendo do ângulo de posicionamento da cabeça, a água realmente chega aos ouvidos, dando a sensação de entupimento. Isto pode ser especialmente incômodo, mas aos poucos a água se esvai naturalmente e os ouvidos logo voltam ao normal. Movimentar a cabeça para frente, para baixo e para trás ajuda a aliviar os ouvidos. Com a prática você poderá descobrir a melhor posição para evitar água nos ouvidos e a melhor forma de livrar-se dela, caso isso aconteça.

Como dito no começo, é possível improvisar um lota com outros tipos de recipientes. Bisnagas de plástico podem ser usadas para esse fim. Nestes casos deve-se ter o cuidado de abrir um pequeno furo na extremidade oposta ao bico de modo a que a água flua naturalmente sem ter que pressionar o recipiente; desta forma garante-se o fluxo natural da água e previne-se pressão excessiva ao realizar o jala neti.

Outro detalhe importante ao usar lotas improvisados é que o bico deve ter o tamanho adequado para encaixar-se na narina, sem deixar folgas (o que faria a água vazar pela mesma narina por onde ela entra) e sem penetrá-la profundamente (o que poderia machucá-la). O bico deve também ter um diâmetro não muito grande, de forma que o fluxo de água seja pequeno mas constante, proporcionando uma irrigação suave das fossas nasais.

Não existe um horário ideal para a realização do jala neti. Pode-se, por exemplo, realizá-lo logo depois de uma sessão de yoga, logo antes do banho, como parte da higiene pessoal matinal. É uma forma excelente de começar o dia. Pode-se também realizá-lo no fim do dia, também como parte do ritual de higiene e relaxamento, no encerramento de um dia cansativo. É importante, no entanto, evitar fazer o jala neti logo antes de deitar, porque a água pode ficar acumulada nas fossas nasais e ir para o ouvido. É normal, aliás, a água acumulada escorrer pelas narinas durante os 10 ou 15 minutos que sucedem a prática.

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Passada mais de uma semana realizando o jala neti, os resultados não são espetaculares, mas há melhoras significativas. A respiração parece mais leve e fluida, sem congestões com as quais eu estava acostumado há anos. Há pequenas melhoras também na audição e na visão, já que o sistema irrigado pelo jala neti conecta ouvidos, nariz, olhos e garganta. Certamente os efeitos são mais impressionantes em pessoas que sofrem de males crônicos como sinusite e rinite ou que estão passando por gripes ou resfriados severos.

Algumas pessoas recomendam fazer o jala neti todos os dias. Outras pessoas, apenas uma vez por semana. Há quem recomende o jala neti duas vezes ao dia, em casos de rinite ou gripe forte. Na dúvida sobre como proceder, procuro seguir o bom senso e manter-me atento ao que o corpo diz. Até o momento, um jala neti por dia tem sido confortável e oferecido bons resultados. Quando sinto algum tipo de incômodo (como o que ocorre às vezes nos ouvidos), suspendo a prática por um ou dois dias. Sinto que o ideal é começar com práticas diárias e, à medida que se domina o jala neti, manter o hábito de três práticas semanais.

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Publicado originalmente em meu blog pessoal, em outubro de 2008. Link das imagens, aqui e aqui.

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