Com freqüência encontro pessoas que perguntam se é possível praticar o yoga sem a ajuda de um professor. Sim, é possível, mas é importante aprofundar a compreensão que se tem da pergunta para que a resposta seja a mais precisa e útil possível.
Em primeiro lugar, aprender yoga e praticar yoga são coisas bem diferentes. Quando as pessoas perguntam sobre o yoga sem professor, quase sempre esperam saber se é possível aprender sozinhas -- geralmente essas pessoas são iniciantes que por diversos motivos não podem ter acesso a um professor de yoga. Praticantes experientes sabem que, uma vez que se adquire alguma experiência no yoga, é bem fácil praticá-lo sem a orientação de um professor.
Em segundo lugar, é importante saber exatamente a quê a pessoa se refere quando fala de praticar yoga. Existem diversos métodos de Hatha Yoga, com diversas ênfases e formas de praticar asanas, pranayama e meditação. Cada prática tem uma função específica dentro de cada modalidade de Hatha Yoga. Algumas incluem estudos sobre os princípios éticos e morais (yamas e niyamas); outras incluem também os kriyas; outras, ainda, dedicam quase todo o tempo da prática aos asanas. E mesmo dentro do mesmo conjunto de práticas, a diversidade é grande. Entre os kriya há, por exemplo, o jala neti (limpeza nasal com água que pode ser feita com segurança sem orientação direta) e o vaso dhauti (limpeza em que se engole uma tira de pane ou gaze, que depois é puxada cuidadosamente para fora; não deve ser feita sem a orientação direta de um professor; Hatha Yoga Pradipika, II:24-25).
Hoje há muita informação disponível e é cada vez mais fácil ter acesso a ela. Se no passado o conhecimento era passado diretamente (de guru a sishya) ou transmitido por meios verbais (sem escapar das inevitáveis ambigüidades e imperfeições desse tipo de transmissão), hoje basta abrir uma página em algum site ou um vídeo no YouTube para aprender diversas práticas yogi. Em minha opinião, ter recebido a orientação direta de um bom professor é condição necessária inclusive para saber utilizar as informações disponibilizadas em livros, revistas, vídeos e sites. A orientação de um professor, assim, não lhe permitirá apenas dominar as práticas que ele transmitirá a você, mas também lhe dará condições de aproximar-se de coisas que ainda lhe são desconhecidas dentro do universo do yoga.
Além disso, lembre-se de que uma dessas coisas desconhecidas (ou pouco conhecidas) é você mesmo. A maioria dos praticantes acredita que a prática regular conduzida por um professor lhe trará autoconhecimento -- um dos benefícios cuja origem a maioria das pessoas atribui ao yoga. De fato, uma aula bem conduzida produz insights no praticante, mas são esses insights que trarão autoconhecimento, não as aulas, não as práticas. Todo praticante está sujeito a não entender nada e a passar a vida inteira repetindo as práticas (principalmente as físicas) do yoga sem chegar a uma compreensão maior sobre si mesmo, mas também é possível que uma única prática (um único asana, por exemplo) traga ao praticante uma percepção imediata e profunda de seus diversos aspectos físicos, intelectuais e emocionais (e, às vezes, espirituais). O que determina que o praticante siga esta ou aquela direção é sua própria disposição para a prática. Neste sentido, é evidente que atitudes diferentes em relação à prática regular com um professor conduzirão a resultados diferentes quando o praticante decidir trazer a prática para seu dia-a-dia ou desenvolver uma prática pessoal, sem professor. E, pessoalmente, acho bem difícil chegar a esse ponto sem ter passado antes por um período sob orientação de um professor.
Mais uma vez, é importante saber a quê estamos nos referindo quando falamos de prática ou sadhana. Praticar asanas não é sinônimo de praticar yoga, embora a prática de yoga quase sempre inclua a prática de asanas. O exemplo dado por professores experientes e por yogis realizados demonstra que o sadhana perfeito não é aquele realizado diariamente, na regularidade das aulas e cursos, mas aquele vivido integralmente. Qual era o sadhana de um Ramana Maharshi? Ele não praticava kriya, asana ou pranayama -- não no sentido usual, de reservar tempo e espaço específicos para realização de técnicas específicas --, ele apenas mantinha a mente e o corpo estáveis e puros e respirava. Obviamente, leva tempo até chegar a esse ponto; há diversos obstáculos -- das obrigações da vida moderna até nossa própria mente, que insistirá para nos afastar da disciplina e das rotinas mais benéficas -- e, assim, um professor não é apenas aquele que poderá inspirar e elevar espiritualmente (nos sentidos mais simples dos termos), mas também coisas mais básicas, como mostrar o que é o yoga, ensinar suas técnicas e dar os estímulos necessários para manter a regularidade da prática.
***
A prática de asanas pode ser levada adiante sem um professor, sob determinadas condições. Por exemplo, como o leitor poderá notar, este blog possui na seção de links um item dedicado aos manuais de asanas (v. "Guias de Asanas"); alguns deles têm boas explicações sobre cada asana, formas de executá-lo, posturas alternativas ou preparatórias etc. O clássico "Light on Yoga", de B. K. S. Iyengar, tem explicações detalhadas sobre os asanas e é possível aprender alguns asanas com a ajuda deste livro -- aliás, todo livro de asanas pressupõe que uma pessoa consiga praticar apenas seguindo as instruções contidas nele. Mas todas estas coisas só são úteis quando o praticante tem um conhecimento prévio para sustentar sua prática. Sem esta preparação, a simples repetição caseira de posturas físicas a partir de livros, sites ou vídeos pode ser bem difícil ou até perigosa, porque o iniciante tem poucas condições de saber se aquela postura específica é adequada às suas capacidades e limitações e também de fazer os devidos ajustes. Isto se deve à dificuldade simples que qualquer praticante tem de observar-se desde fora; não se trata apenas de ter um espelho à disposição, mas de perceber-se integralmente durante uma prática ou na composição de uma postura.
Em primeiro lugar, aprender yoga e praticar yoga são coisas bem diferentes. Quando as pessoas perguntam sobre o yoga sem professor, quase sempre esperam saber se é possível aprender sozinhas -- geralmente essas pessoas são iniciantes que por diversos motivos não podem ter acesso a um professor de yoga. Praticantes experientes sabem que, uma vez que se adquire alguma experiência no yoga, é bem fácil praticá-lo sem a orientação de um professor.
Em segundo lugar, é importante saber exatamente a quê a pessoa se refere quando fala de praticar yoga. Existem diversos métodos de Hatha Yoga, com diversas ênfases e formas de praticar asanas, pranayama e meditação. Cada prática tem uma função específica dentro de cada modalidade de Hatha Yoga. Algumas incluem estudos sobre os princípios éticos e morais (yamas e niyamas); outras incluem também os kriyas; outras, ainda, dedicam quase todo o tempo da prática aos asanas. E mesmo dentro do mesmo conjunto de práticas, a diversidade é grande. Entre os kriya há, por exemplo, o jala neti (limpeza nasal com água que pode ser feita com segurança sem orientação direta) e o vaso dhauti (limpeza em que se engole uma tira de pane ou gaze, que depois é puxada cuidadosamente para fora; não deve ser feita sem a orientação direta de um professor; Hatha Yoga Pradipika, II:24-25).
Hoje há muita informação disponível e é cada vez mais fácil ter acesso a ela. Se no passado o conhecimento era passado diretamente (de guru a sishya) ou transmitido por meios verbais (sem escapar das inevitáveis ambigüidades e imperfeições desse tipo de transmissão), hoje basta abrir uma página em algum site ou um vídeo no YouTube para aprender diversas práticas yogi. Em minha opinião, ter recebido a orientação direta de um bom professor é condição necessária inclusive para saber utilizar as informações disponibilizadas em livros, revistas, vídeos e sites. A orientação de um professor, assim, não lhe permitirá apenas dominar as práticas que ele transmitirá a você, mas também lhe dará condições de aproximar-se de coisas que ainda lhe são desconhecidas dentro do universo do yoga.
Além disso, lembre-se de que uma dessas coisas desconhecidas (ou pouco conhecidas) é você mesmo. A maioria dos praticantes acredita que a prática regular conduzida por um professor lhe trará autoconhecimento -- um dos benefícios cuja origem a maioria das pessoas atribui ao yoga. De fato, uma aula bem conduzida produz insights no praticante, mas são esses insights que trarão autoconhecimento, não as aulas, não as práticas. Todo praticante está sujeito a não entender nada e a passar a vida inteira repetindo as práticas (principalmente as físicas) do yoga sem chegar a uma compreensão maior sobre si mesmo, mas também é possível que uma única prática (um único asana, por exemplo) traga ao praticante uma percepção imediata e profunda de seus diversos aspectos físicos, intelectuais e emocionais (e, às vezes, espirituais). O que determina que o praticante siga esta ou aquela direção é sua própria disposição para a prática. Neste sentido, é evidente que atitudes diferentes em relação à prática regular com um professor conduzirão a resultados diferentes quando o praticante decidir trazer a prática para seu dia-a-dia ou desenvolver uma prática pessoal, sem professor. E, pessoalmente, acho bem difícil chegar a esse ponto sem ter passado antes por um período sob orientação de um professor.
Mais uma vez, é importante saber a quê estamos nos referindo quando falamos de prática ou sadhana. Praticar asanas não é sinônimo de praticar yoga, embora a prática de yoga quase sempre inclua a prática de asanas. O exemplo dado por professores experientes e por yogis realizados demonstra que o sadhana perfeito não é aquele realizado diariamente, na regularidade das aulas e cursos, mas aquele vivido integralmente. Qual era o sadhana de um Ramana Maharshi? Ele não praticava kriya, asana ou pranayama -- não no sentido usual, de reservar tempo e espaço específicos para realização de técnicas específicas --, ele apenas mantinha a mente e o corpo estáveis e puros e respirava. Obviamente, leva tempo até chegar a esse ponto; há diversos obstáculos -- das obrigações da vida moderna até nossa própria mente, que insistirá para nos afastar da disciplina e das rotinas mais benéficas -- e, assim, um professor não é apenas aquele que poderá inspirar e elevar espiritualmente (nos sentidos mais simples dos termos), mas também coisas mais básicas, como mostrar o que é o yoga, ensinar suas técnicas e dar os estímulos necessários para manter a regularidade da prática.
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A prática de asanas pode ser levada adiante sem um professor, sob determinadas condições. Por exemplo, como o leitor poderá notar, este blog possui na seção de links um item dedicado aos manuais de asanas (v. "Guias de Asanas"); alguns deles têm boas explicações sobre cada asana, formas de executá-lo, posturas alternativas ou preparatórias etc. O clássico "Light on Yoga", de B. K. S. Iyengar, tem explicações detalhadas sobre os asanas e é possível aprender alguns asanas com a ajuda deste livro -- aliás, todo livro de asanas pressupõe que uma pessoa consiga praticar apenas seguindo as instruções contidas nele. Mas todas estas coisas só são úteis quando o praticante tem um conhecimento prévio para sustentar sua prática. Sem esta preparação, a simples repetição caseira de posturas físicas a partir de livros, sites ou vídeos pode ser bem difícil ou até perigosa, porque o iniciante tem poucas condições de saber se aquela postura específica é adequada às suas capacidades e limitações e também de fazer os devidos ajustes. Isto se deve à dificuldade simples que qualquer praticante tem de observar-se desde fora; não se trata apenas de ter um espelho à disposição, mas de perceber-se integralmente durante uma prática ou na composição de uma postura.
Comentários
Abraços
Seja bem-vinda, Gita.
Abraços.