O excessivo foco nas técnicas corporais do yoga tem sido a causa de reações extremadas. A partir deste excesso os estudos, práticas e discussões a respeito destas técnicas estagnam-se e dividem-se em dois grupos estanques.
O primeiro grupo é constituído por pessoas, métodos e escolas que priorizam as técnicas corporais em detrimento de outras técnicas; este grupo se apóia mormente nas criações de T. Krishnamacharya e de seus discípulos, como B. K. S. Iyengar e Patthabi Jois, criadores dos dois métodos mais famosos e influentes no Ocidente. Chamemos este grupo de «asanistas».
O segundo grupo é constituído por pessoas, métodos e escolas que, embora dominem e transmitam a teoria e a prática das técnicas corporais, afirmam com freqüência que elas são substancialmente menos importantes do que outras dentro do conjunto amplo de técnicas do yoga; este grupo se apóia no despojamento com que as técnicas corporais -- sobretudo os asanas -- são tratadas nos shastras (escrituras sagradas) e em ambientes mais tradicionais. Chamemos este grupo de «tradicionalistas».
De um lado, nota-se que as técnicas corporais do yoga realmente trazem benefícios importantes e palpáveis à saúde física e é adequado não menosprezar isso. De outro lado, chamar estas técnicas de «yoga» só faz sentido se elas estão inseridas num conjunto que constitui a própria disciplina do yoga. Contudo, o interesse cada vez maior nos benefícios corporais tem significado um interesse cada vez menor em compreender o que é de fato essa disciplina -- onde ela começa e para onde pretende levar o indivíduo. Focalizar uma parte (pequena, se se trata apenas de asanas) quase sempre leva o observador a se tornar cego para o todo.
O ponto de partida para aproximar «asanistas» e «tradicionalistas» passa necessariamente pela análise dos «métodos modernos» à luz dos «métodos antigos». Deve-se buscar saber, a partir daí, de que forma cada técnica ou método moderno está ou não relacionado com a disciplina do yoga.
Os «tradicionalistas» compreendem as técnicas e os benefícios corporais da seguinte forma: a perfeição corporal tem como objetivo inicial evitar que o corpo cause problemas. O maior benefício da saúde física é não precisar preocupar-se com ela; uma vez obtida, o corpo deixa de ser objeto de trabalho e estudo e passa a ser o instrumento para o trabalho e o estudo de outros objetos. Isso está expresso tanto nos Yoga Sutras como no Hatha Vidya.
Nos Yoga Sutras, essa idéia é expressa de forma breve e velada. Sobre os asanas há o sutra II,46: «firme e confortável é a postura». Mesmo que este sutra nos lance na busca por firmeza e conforto -- o que invariavelmente ocorre --, fica claro que o que se deve buscar não é o domínio de dezenas ou centenas de asanas, mas duas qualidades ao adotar uma postura (qualquer postura) que terá uma determinada aplicação nos outros estágios da prática do yoga. A forma como Patañjali organiza seus sutras reforça esta idéia: dentro de seu sistema, asana é o terceiro de oito degraus que compõem o yoga. Logo, asana é um meio, não um fim.
No Hatha Vidya a idéia do corpo como instrumento está expressa de forma direta, seja textualmente, seja, como em Patañjali, na ordenação das partes que compõem os métodos.
O problema, portanto, é quando a busca pela saúde torna-se um fim. Naturalmente, enquanto houver um corpo haverá a necessidade de cuidar dele e, portanto, também será natural prosseguir realizando as técnicas corporais do yoga. Não é tênue a linha que separa os cuidados corriqueiros com o corpo e com a saúde da obsessão por uma perfeição corporal que nunca virá, mas com facilidade ela é cruzada e com facilidade ela se torna um muro.
Os «asanistas» parecem ter cruzado essa linha a um ponto tal que lhes foge a resposta para uma pergunta simples: «para quê servem os asanas?». Repito: os asanas, como todas as técnicas corporais do yoga, servem em primeiro lugar para que o corpo não cause problemas. Se você tem interesse em continuar praticando o yoga e já chegou a um ponto em que o corpo está saudável, talvez seja a hora de seguir adiante.
É evidente que os asanas não servem apenas para a realização de metas posturais e nem é essa sua principal função.
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O primeiro grupo é constituído por pessoas, métodos e escolas que priorizam as técnicas corporais em detrimento de outras técnicas; este grupo se apóia mormente nas criações de T. Krishnamacharya e de seus discípulos, como B. K. S. Iyengar e Patthabi Jois, criadores dos dois métodos mais famosos e influentes no Ocidente. Chamemos este grupo de «asanistas».
O segundo grupo é constituído por pessoas, métodos e escolas que, embora dominem e transmitam a teoria e a prática das técnicas corporais, afirmam com freqüência que elas são substancialmente menos importantes do que outras dentro do conjunto amplo de técnicas do yoga; este grupo se apóia no despojamento com que as técnicas corporais -- sobretudo os asanas -- são tratadas nos shastras (escrituras sagradas) e em ambientes mais tradicionais. Chamemos este grupo de «tradicionalistas».
De um lado, nota-se que as técnicas corporais do yoga realmente trazem benefícios importantes e palpáveis à saúde física e é adequado não menosprezar isso. De outro lado, chamar estas técnicas de «yoga» só faz sentido se elas estão inseridas num conjunto que constitui a própria disciplina do yoga. Contudo, o interesse cada vez maior nos benefícios corporais tem significado um interesse cada vez menor em compreender o que é de fato essa disciplina -- onde ela começa e para onde pretende levar o indivíduo. Focalizar uma parte (pequena, se se trata apenas de asanas) quase sempre leva o observador a se tornar cego para o todo.
O ponto de partida para aproximar «asanistas» e «tradicionalistas» passa necessariamente pela análise dos «métodos modernos» à luz dos «métodos antigos». Deve-se buscar saber, a partir daí, de que forma cada técnica ou método moderno está ou não relacionado com a disciplina do yoga.
Os «tradicionalistas» compreendem as técnicas e os benefícios corporais da seguinte forma: a perfeição corporal tem como objetivo inicial evitar que o corpo cause problemas. O maior benefício da saúde física é não precisar preocupar-se com ela; uma vez obtida, o corpo deixa de ser objeto de trabalho e estudo e passa a ser o instrumento para o trabalho e o estudo de outros objetos. Isso está expresso tanto nos Yoga Sutras como no Hatha Vidya.
Nos Yoga Sutras, essa idéia é expressa de forma breve e velada. Sobre os asanas há o sutra II,46: «firme e confortável é a postura». Mesmo que este sutra nos lance na busca por firmeza e conforto -- o que invariavelmente ocorre --, fica claro que o que se deve buscar não é o domínio de dezenas ou centenas de asanas, mas duas qualidades ao adotar uma postura (qualquer postura) que terá uma determinada aplicação nos outros estágios da prática do yoga. A forma como Patañjali organiza seus sutras reforça esta idéia: dentro de seu sistema, asana é o terceiro de oito degraus que compõem o yoga. Logo, asana é um meio, não um fim.
No Hatha Vidya a idéia do corpo como instrumento está expressa de forma direta, seja textualmente, seja, como em Patañjali, na ordenação das partes que compõem os métodos.
O problema, portanto, é quando a busca pela saúde torna-se um fim. Naturalmente, enquanto houver um corpo haverá a necessidade de cuidar dele e, portanto, também será natural prosseguir realizando as técnicas corporais do yoga. Não é tênue a linha que separa os cuidados corriqueiros com o corpo e com a saúde da obsessão por uma perfeição corporal que nunca virá, mas com facilidade ela é cruzada e com facilidade ela se torna um muro.
Os «asanistas» parecem ter cruzado essa linha a um ponto tal que lhes foge a resposta para uma pergunta simples: «para quê servem os asanas?». Repito: os asanas, como todas as técnicas corporais do yoga, servem em primeiro lugar para que o corpo não cause problemas. Se você tem interesse em continuar praticando o yoga e já chegou a um ponto em que o corpo está saudável, talvez seja a hora de seguir adiante.
É evidente que os asanas não servem apenas para a realização de metas posturais e nem é essa sua principal função.
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