Nunca meditou? Gostaria de começar? Siga as instruções.
Primeiramente é necessário definir a técnica. Existem diversas formas de meditar, dentro ou fora do Yoga. No início as técnicas do Yoga têm como objetivo facilitar o equilíbrio e o conforto do corpo e conduzir a mente a um silêncio mais consistente e profundo. Mas, no que diz respeito ao corpo e à mente, elas coincidem em vários pontos:
-- sentar-se de forma confortável, com o corpo relaxado
-- permanecer tão imóvel quanto for possível
-- manter os olhos fechados
-- respirar conscientemente
-- observar os pensamentos e evitar «prendê-los»
Esta é a técnica básica. Vamos a alguns detalhes importantes:
CORPO
-- Sente-se no chão, como se faz numa aula de Yoga. Você pode preferir sentar numa almofada firme (com o quadril mais alto, a lombar poderá ficar mais confortável) ou numa cadeira. Não é bom usar o sofá ou mesmo deitar-se, porque o excesso de conforto leva ao sono e dormir não é o mesmo que meditar (embora os preguiçosos compulsivos possam afirmar isso...).
-- O rosto, o maxilar e o pescoço permanecem descontraídos.
-- Ao sentar, não se preocupe com a posição das pernas, apenas acomode-se do modo mais confortável possível e procure manter a coluna ereta, sem enrijecê-la. Quanto mais alinhada a coluna, mais espaço haverá para a respiração; quanto maior for a respiração, mais facilmente a meditação acontecerá.
-- Evite se mexer. Isto não é uma regra rígida como alguns pensam e eventualmente pode ser necessário espantar um mosquito que pousou no rosto ou fazer uma pequena acomodação para evitar dores na lombar e no pescoço. Mesmo assim, evite todos os movimentos que não são estritamente necessários. A maioria realmente não é necessária. Perceba que você conduz o corpo, você determina a maioria dos movimentos que o corpo faz. Assim sendo, determine que o corpo ficará imóvel durante a meditação. A grosso modo, a meditação é também um processo de aquietação e estabilização do corpo. Os asanas ajudam muito neste processo.
MENTE
-- Mais do que o corpo, a natureza da mente é movimento. Quando fechamos os olhos, a mente implora atenção, produzindo imagens, pensamentos, emoções, desejos etc. Uma das chaves do «trabalho mental» na meditação é observar os pensamentos. Assim como tomamos na mão um objeto qualquer que possuímos e simplesmente o deixamos sobre uma mesa, o mesmo pode ser feito com o pensamento: ele surge naturalmente; se nada fizermos além de observá-lo, ele se dissipará para dar lugar a outro pensamento e assim sucessivamente. O objetivo, portanto é não se agarrar a nenhum pensamento específico, muito menos agarrar-se a esse fluir incessante de pensamentos.
-- Como não se agarrar? Se simplesmente tentarmos não prender os pensamentos, é exatamente o contrário que acontecerá, pois a mente prega suas peças. Usamos então um artifício valioso: dharana, que no sânscrito significa «concentração». Nós simplesmente escolhemos um objeto e colocamos toda nossa atenção nele. Este objeto pode ser externo, como quando observamos a chama de uma vela e permanecemos nessa observação até que a mente seja «enganada» pela observação. A partir de um certo ponto a mente «desiste» de competir com o objeto que estamos observando. Mas o objeto pode ser interno também, como quando direcionamos o olhar para o ajna chakra (o ponto situado na testa, entre as sobrancelhas) ou quando apenas contamos as respirações. Você escolhe.
-- Uma vez que a atenção tenha se fixado em algum ponto (de preferência interno, já que ao meditar no Yoga ficamos com os olhos fechados), a meditação consiste em manter essa focalização pelo maior tempo possível.
DURAÇÃO E FREQÜÊNCIA
-- A meditação começa a funcionar para aquilo que foi proposta a partir de 30 minutos. Mas é possível começar de forma branda e depois aumentar o tempo gradativamente. Comece com 10 minutos. Se lhe parecer muito tempo, 5 minutos também são um começo. Mas comece. Para evitar distrações com o tempo, use um timer (hoje a maioria dos celulares dispõe desse recurso).
-- O ideal (ah, os ideais) é que a prática seja diária. Como dizia Aristóteles, nós nos tornamos aquilo que fazemos repetidamente. Mas é claro que uma prática tomada como mera obrigação trará poucos benefício.
HORA E LOCAL
-- Obviamente, é fundamental um lugar silencioso. Uma vez li num livro sobre um presidiário que aprendeu a meditar na prisão e que, para manter a prática diária num ambiente tão caótico, simplesmente se fechava num armário na lavanderia da prisão. Acredito que a maioria das pessoas disponha de melhores condições e saberá encontrar um bom lugar para meditar, silencioso e livre de interrupções.
-- O escuro é bom, mas pode não ser muito prático. A luz de uma vela ou a luz suave de um abajur podem ser ideais.
-- O conforto térmico também é importante. Nada em excesso.
-- As horas ideais são logo antes de deitar ou logo após acordar, inclusive porque reduz as chances de ser interrompido por alguém. Antes de dormir a meditação prepara convida ao relaxamento físico e mental. Logo após acordar a meditação trará mais clareza mental, fundamental para lidar com as tarefas do dia-a-dia.
O QUE FAZER DURANTE A MEDITAÇÃO?
-- Não se faz nada durante a meditação. Desejar fazer algo é o primeiro passo para atrapalhar a meditação. Enquanto estiver sentado em silêncio não deseje meditar, entrar em «estado de meditação» ou qualquer outra coisa do gênero. Desejos também são pensamentos e os pensamentos são obstáculos para a meditação -- portanto, não se prenda nem ao desejo de se livrar dos pensamentos. Basta manter-se quieto, com respiração plena e consciente, pelo tempo que você reservou para si.
-- Se você faz parte de uma tradição religiosa específica, no início poderá repetir mentalmente orações ou mantras de sua tradição. Embora no Yoga haja técnicas específicas que dispensam auxílios desse tipo, a meditação é você com você mesmo e, portanto, não há regras.
-- Se for necessário usar verbos, use estes: observar, contemplar, testemunhar, silenciar.
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Quem tiver dúvidas ou mais dicas, basta deixar um comentário. E um texto com teor humorístico sobre o mesmo tema pode ser lido aqui.
Boa prática a todos.
Namaste.
Comentários
Eu estou com muita depressão. Vc recomendaria Yoga para aliviar os sintomas da depressão?
Yoga é misticismo ?
O hathayoga pode ajudar bastante no tratamento da depressão e no alívio dos sintomas, em especial as técnicas respiratórias e a meditação.
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O yoga não é misticismo. O yoga -- em particular o hathayoga -- é uma disciplina de desenvolvimento pessoal e autoconhecimento.
A transcendência, que é característica de todos os caminhos espirituais -- como o yoga --, deve ser compreendida como um processo inclusivo, não exclusivo.
A não ser que você já tenha uma longa experiência com a meditação, não é correto.
Não há muito sentido em ter um objeto de concentração que não seja um objeto. «O ser além do eu» pode ser imaginado como um objeto, mas não pode ser vivenciado como um objeto. O esforço de concentração em objetos que não são objetos resulta em agitação mental. É como tentar pegar a água com as mãos.
Leia o artigo.
Qualquer coisa pode ser usada como objeto de concentração: um prego na parede, a ponta do seu polegar, um bija mantra etc. Apenas lembre-se que concentração é dharana, que é apenas o primeiro estágio do samyama.