Anúncio veiculado na Yoga Journal americana: hora de vender meias; tirem as crianças da sala.
Semana passada deparei-me com alguns artigos que lançam críticas à revista Yoga Journal.
O primeiro deles tem o título «Eu odeio a Yoga Journal» e foi publicado no blog Recovering Yogi. Trecho (tradução chulé, perdoem):
(...) Eu abro a revista esperando encontrar inspiração, ou pelo menos evitar aborrecimentos, mas lá pela página três eu já estou aborrecida. Tantos anúncios. Tantos anúncios estúpidos. Não apenas anúncios velados de coisas esotéricas que ajudarão você a obter iluminação mais rápido (como um despertador zen), mas anúncios de comida para animais de estimação (porque mulheres brancas têm gatos) e Subarus (caso as leitoras vivam em Vermont ou no Colorado). Os artigos também podem ser anúncios de como conduzir o relacionamento com seu ex-marido, a nova esposa dele e o gato deles, como ajudar pessoas em outros países a fazer cestas e objetos natalinos, e como não peidar enquanto você faz aquela postura desafiadora que acabou com seus joelhos ano passado. (...)Este artigo me levou a outros dois, «Fight the Power! A plea to Yoga Journal» e «Yoga Journal Covers: Who Really Calls the Shots?». O teor destes é praticamente o mesmo do primeiro.
(...) É como um «bumerangue samsárico» colorido e brilhante que acaba acertando sua nuca. Talvez seja isso: eu tenho que ser sacudida e descer ao nível de consumismo e superficialidade que pulsa em cada página reciclada e impressa com tinta que cheira a tofu. Talvez os ávidos leitores (como se houvesse algo para ler) da Yoga Journal estejam perambulando numa nuvem de cândida vegetariana e não tenham exatamente o equilíbrio da flora necessário para perceber que a prática de yoga deles não vai se desenvolver na mesma proporção do número de meses de assinatura da revista. Parem com isso, senhoritas. A última coisa de que vocês precisam é adicionar à consciência um falso ideal e viver de acordo com ele.
A queixa é a mesma: a mais famosa revista de yoga do mundo (que tem uma edição brasileira, aliás) deveria mostrar mais «pessoas reais» e ser direcionada para um «público real». Entre os problemas apontados nos artigos há a ausência de negros, de gordos, de «pessoas reais» enfim, e o excesso de um único tipo de pessoa: mulheres brancas, magras e bonitas.
Seria engraçado, se não fosse um pouco patético também. A Yoga Journal é uma revista. O objetivo dos editores de revistas é vender revistas. Para que uma revista venda é necessário que ela seja atraente. Logo, o que rege publicações de yoga não é o que de fato o yoga é, mas aquilo que se convencionou ao longo dos últimos anos, determinado por um mercado que nos EUA movimenta anualmente mais de 4 bilhões de dólares. Logo, não faz o menor sentido esperar ver na capa da revista uma divindade azul segurando um tridente ou, falando de «pessoas reais», um natha:
Grande mestre Pir Sri Rattan Nath Ji, da linhagem dos fundadores do Hatha Yoga
Há, além disso, a noção de «real»:o que pode haver de «real» numa capa de revista? Da forma como entendo, há mais «realidade» em colocar na capa de uma revista uma modelo maravilhosa, contorcionista, esguia e flexível supostamente «praticando yoga» do que numa outra em que uma «pessoa comum» foi colocada apenas para que o leitor leia subliminarmente algo como «olhe, pessoas comuns como eu também praticam yoga e também aparecem nas capas de revistas». Por que? Oras, nenhuma revista tem como objetivo mostrar aquilo que você já é, mas aquilo que você quer ser ou, mais do que isso, aquilo que você precisa querer ser (como o mercado se manteria se só oferecesse aquilo que nós já queremos?).
Mas nem tudo está perdido. Num dos artigos a autora faz uma autocrítica (porque ela também escreve na Yoga Journal):
No clima atual, o próprio Buda não teria sua gorda e afortunada barriga aprovada pelo editor júnior.Pois é.
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