O Ocidente está sendo enganado


Uma visita a qualquer «studio» de yoga é suficiente para informar mesmo ao mais leigo dos praticantes de yoga que aquilo que tem sido praticado -- e estudado, quando o lugar é considerado «uma escola séria» -- não tem relação com o que se fazia na Índia, na Idade Média. Até mesmo os instrutores mais engajados nos sistemas modernos admitem isso. Há, de fato, uma distância gigantesca separando os sistemas modernos daquilo que um Ramana Maharshi, um Nisargadatta Maharaj ou um Shivabalayogi chamariam de yoga.

Nem seria necessário apelar a esses três sábios. Há centenas, talvez milhares de livros, que supostamente falam de yoga. Todos esses livros fazem alguma menção aos Sutras de Patañjali e às lições dos hathayogis, como Matsyendranath e Gorakhshanath. Os autores desses livros não negam que o objetivo do yoga é transcendente, não imanente. Prestam reverências à tradição. Fazem a lição de casa.

Porém, uma vez concluídos os prefácios, logo começa o festival de bobagens.

Um dos livros mais populares no Ocidente, «Light on Yoga», do conhecido prof. B. K. S. Iyengar, segue exatamente essa linha. O capítulo introdutório é correto em sua maioria, mas nesse mesmo capítulo há a justificativa de Iyengar para a apresentação não de 20 ou 30 posturas corporais, mas de 200 posturas, com mais de 600 fotos. Diz ele na página 27:
Minha experiência levou-me a concluir que para um homem ou mulher comuns, em qualquer comunidade do mundo, a maneira de atingir a paz de espírito é trabalhar com determinação em dois dos oito estágios da ioga citados por Patañjali, a saber, asana e pranayama.
Com efeito, o método Iyengar -- conhecido por muitos como Iyengar Yoga -- resume-se à prática corporal com foco terapêutico. Excelente para melhorar a postura e atenuar problemas de coluna, mas que não produziu um único iluminado desde que o método foi criado.

Situação semelhante é a do Ashtanga Vinyasa Yoga, que alguns praticantes chegam a considerar uma «tradição», já que o nome faz referência à sistematização em oito partes, tal como foi proposta por Patañjali nos Sutras. Na Internet há dezenas de imagens de aulas coletivas e muitas delas são subscritas com uma legenda onde se lê: «como manda a tradição».

Quando procuramos conhecer a história do método de Pattabhi Jois e o que é a «tradição» que ele propõe, vemos que se trata de algo fortemente inspirado no trabalho de seu professor, Krishnamacharya. Este, por sua vez, estabeleceu na verdade não um sistema de yoga, mas de educação física, mormente voltado para crianças e jovens (como explica o próprio Iyengar, que também foi aluno de Krishnamacharya, nesta entrevista). Se remontarmos à época em que Krishnamacharya estabeleceu sua criação (final da década de 1920), veremos que seus sistema foi inicialmente voltado para uma elite indiana que àquela altura já havia sido influenciada por duas vertentes tipicamente européias: a educação física e, principalmente, o higienismo. A yogaterapia -- seja como sistema prático-disciplinar, seja como crença nos benefícios terapêuticos de técnicas inspiradas no hathayoga -- é fruto dessas duas vertentes.

Praticamente tudo o que se fez sob o nome de «yoga» no Ocidente desde os anos 50 nasceu sob a influência desses três indivíduos -- Iyengar, Jois e Krishnamacharya. O livro de Iyengar, lançado em 1966, pode ser considerado um divisor de águas neste sentido. A riqueza gráfica, a enorme quantidade de posturas físicas e o próprio tamanho do livro, com mais de 500 páginas, constituíam argumentos bastante sólidos sobre a veracidade das lições que ali eram transmitida.

Mas voltemos ao início: que relação há entre as 200 posturas corporais do livro do prof. Iyengar e, por exemplo, o 50º verso do primeiro capítulo dos Yoga Sutras?
A prática do samadhi continuada, persistente e somada ao desapego cultiva um hábito mental que ainda é um samskara, porém o samskara mais elevado de todos, que suplanta e interrompe todos os demais.
Se formos seguir à risca o que o próprio Iyengar ensinou em seu livro e que é repetido ad nauseam pelos instrutores de seu método, não há relação. Samadhi está fora do yoga de acordo com o método proposto pelo prof. Iyengar. Logo, não faz sentido apelar para os Sutras para explicar o que quer que seja nesse método.

Suponhamos que você seja daqueles instrutores que não conhecem apenas o método Iyengar, mas também o Ashtanga Vinyasa Yoga, o Yoga Integral, o Hatha Yoga Contemporâneo, o Yoga Restaurativo, o Kundalini Yoga e até mesmo o Acro Yoga; suponhamos que você estuda Vedanta com Glória Arieira, senta na primeira fila quando Swami Dayananda vem ao Brasil, conhece Ayurveda, Jyotish e Vaastu Shastra, guarda com carinho todos os certificados dos inúmeros cursos de formação que fez (menos o de Swasthya Yoga), mas, no fim das contas, quer apenas divulgar e dividir suas descobertas com outras pessoas e difundir uma prática que você mesmo desenvolveu, com profunda sinceridade e reverência para com a tradição. É um peso excessivo, mas que você expõe como troféu na seção «Sobre» no site de sua escola de yoga. O pensador americano Thoreau, na singeleza da cabana que ele mesmo construiu em meados do séc. XIX, era muito mais yogi do que você. «Simplifique, simplifique», dizia ele.

Leio, por exemplo, um artigo que é apresentado com a expressão «para o bem de todos aqueles que buscam o yoga autêntico». O artigo consiste em defender a longa permanência nas posturas com o propósito de conquistar os «benefícios do yoga». O título do artigo é Yoga não é ginástica. Nas palavras do autor (grifos meus):
Ora, as asanas -- e lá está sua diferença essencial com relação à ginástica e aos esportes --, visam mais aos órgãos do que os músculos. Portanto, em virtude da regra do tudo ou nada, se eu não permanecer alguns segundos em imobilidade, não se produz qualquer reação da parte de um órgão seja ele qual for. Mas, depois de uma permanência de alguns segundos, cada segundo de imobilidade suplementar redunda em benefício certo, portanto intensifica e/ou prolonga a reação! Assim, quanto mais longamente se permanecer imóvel, mais profundos e duráveis serão os efeitos benéficos das posturas.
Santa paçoquinha... Quer dizer que o yoga não é ginástica porque visa mais os órgãos do que os músculos? O que há de yoga autêntico nisso? Basta ler um (01) shastra para perceber a enorme bobagem diante da qual estamos.

Quando repito estas críticas -- quem acompanha meu site já deve ter percebido que este é um tema recorrente --, algumas pessoas respondem com o argumento de que não há problemas desde que o resultado seja bom. Quando insisto um pouco mais, essas pessoas conseguem perceber que esse argumento é um desvio retórico, não uma resposta à crítica, e acabam se sentindo na obrigação de justificar aquilo que elas fazem e que, em muitos casos, ensinam -- o que, para um observador atento, é uma admissão de culpa, algo como:
Ok, admito, isso não é o yoga autêntico. Sim, eu minto, mas estou fazendo bem às pessoas.
Entre as justificativas mais comuns há aquela que diz mais ou menos assim: «Se nós [instrutores de yoga] não oferecermos ginástica e bem-estar, as pessoas não virão e jamais serão atraídas para o yoga autêntico». De fato, o yoga, sobretudo em sua forma mais conhecida, o hathayoga, pode ser asqueroso e desagradável. Há no Hatha Yoga Pradipika descrições de técnicas em que o indivíduo deve cobrir o corpo com cinzas mortuárias e outras tantas que sinalizam relações bastante incomuns com os fluidos corporais. A própria noção tradicional de tapasya está a léguas de distância das práticas modernas, em que essa noção é entendida como a quantidade de suor no tapete e como uma espécie de disciplina militar na realização de técnicas corporais.

Considere, por exemplo, um aluno que leu sobre yoga num site, livro ou revista. Tudo que ele vê é cuidado corporal, bem-estar e, no máximo, uma menção muito discreta às questões de espiritualidade. Se ele chegar a uma escola e deparar-se com suor e cinzas, vai sair correndo. Ele só se sentirá impelido a procurar o yoga se quiser algo parecido com o que ele viu em algum lugar. E o que ele vê? Todo material publicado sobre o yoga é ricamente ilustrado com imagens magníficas de pessoas realizando posturas corporais. O que nenhum professor explica é que, se a pessoa foi impelida por uma imagem, ela já apontou numa direção totalmente contrária ao yoga. A própria espiritualidade, quando abordada de forma aberta numa aula, vem sempre adornada com as cores do combate à depressão e de outros resultados psicológicos e terapêuticos. Não por coincidência tantos livros «de yoga» são colocados nas seções de auto-ajuda.

Você mantém o recém-chegado a uma distância segura do dark side do yoga, passa meses, talvez anos ensinando vinyasa, faz a pessoa sentir-se bem, eleva sua auto-estima, ajuda a curar sua escoliose, ela até passa a transar melhor. E o tal yoga autêntico nunca vem.

Se você atrai uma pessoa e a torna sua aluna graças à propaganda dos benefícios corporais, a associação entre yoga e benefício corporal já foi estabelecida e consolidada e tudo o que ela procurará no yoga será o benefício corporal. Será impossível a partir daí fazê-la compreender que o yoga não é isso. Também será impossível escapar do discurso de auto-justificação. Cedo ou tarde você será pego expelindo pérolas como «asana visa mais os órgãos do que os músculos», que é uma tentativa comovente de consertar a cagada inicial, mas que só piora a situação.

Daí para comprar uma assinatura da Yoga Journal ou tornar-se um de seus colunistas é um pulo.

O Ocidente acostumou-se com essas coisas, acostumou-se a ser enganado e -- sim, sim -- aprendeu a enganar. Não se envergonha mais de colocar «power» ou «flow» ao lado do termo «yoga» -- tanto que hoje há termos bem piores pintados com o verniz yogi. O Ocidente vem sendo sistematicamente enganado porque não admite que comprou gato por lebre umas décadas atrás. Acostumou-se tanto com a idéia de que yoga é saúde corporal e bem-estar que não consegue mais sair dessa gaiola.

Seria leviano atribuir toda a culpa disso aos três indivíduos que citei no início deste texto, mas poderíamos dizer que o Ocidente soube recebê-los de braços, mentes e bolsos abertos e continua assim, como se os três indivíduos estivessem no auge da propagação de suas respectivas franquias. Só que não estão. Por incrível que pareça, somos todos livres para buscar

*

Nota:

Enquanto escrevia este texto, antes mesmo de finalizá-lo, recortei um pequeno trecho e o publiquei em minha página no Facebook. Poucas horas depois notei que havia uma pessoa a menos na lista de «likes». É difícil crer que foi coincidência, ainda mais quando me lembro das inúmeras experiências que tive na rede social fazendo críticas como as que expus neste artigo: não há espaço para críticas ou discussões genuínas no yoga; jamais fui refutado, mas jamais fui bem recebido quando expus estas idéias.

Obviamente não me preocupo com a quantidade de leitores que tenho. O que realmente preocupa é perceber que há cada vez menos espaço para abordar certos temas.A tradição que começou com a busca pelo autoconhecimento através da auto-observação e do despojamento das inúmeras camadas que o ego produz e acumula -- quem diria -- foi convertida em performance pop e desenvolveu seus próprios tabus.

Comentários

mario disse…
ótimo texto muito bem pesquisado e estudado.
mas yoga de patanjali tem 8 etapas.
onde o samadhi na teoria seria o alvo ou moksa.
não é um fim.
a yoga no ocidente apenas se desmanchou.
na índia não é diferente.
isto desde a época de buddha.
o texto é muito bom,mas é netismo.
o que seria a yoga verdadeira ? nath-sampradaya !
Bruno Jones disse…
Christian, belas palavras!!!
Christian Rocha disse…
Obrigado, Mario.

Sobre o yoga de Patañjali: moksa e samadhi são coisas diferentes.

Sobre netismo: você se refere a "neti neti"? Se sim, lembre-se que todo o yoga é um processo de negação daquilo que não é o Eu e, ao mesmo tempo, não pode ser um processo de afirmação do Eu, porque o Eu nada afirma, ele é a substância de todas as afirmações e de todas as negações.
Unknown disse…
Teu ponto de vista é aceitável...a yoga está com muitas caras e muitos desvirtuamentos de sua essência...YOGA=UM...e UM é união de corpo-mente-espírito...eh a busca do Eu, é um caminho para nos encontrarmos com nossa natureza plena(Ísvara)...mas o que vemos é uma negação desse aspecto...pq: mantrar é perigoso pq pode parecer rito religioso...meditar pode parecer muito "cabeça"...dai as pessoas ficam na superfície...só ãsanas e prãnayamas...e ai ta formado um círculo vicioso...parabéns pelo teu ponto de vista, mas discordo cordialmente...os Mestres aqui citados deram o que têm de melhor para os discípulos encontrarem suas "verdades"...então, busque a sua verdade sendo um discípulo das fontes verdadeiras que vc deve ter privilegiadamente e encontrarás o "mestre" em vc....no mais, respeitemos cada mestre e corrente de Yoga...Ahinsa meu irmão...namaste!
Unknown disse…
Teu ponto de vista é aceitável...a yoga está com muitas caras e muitos desvirtuamentos de sua essência...YOGA=UM...e UM é união de corpo-mente-espírito...eh a busca do Eu, é um caminho para nos encontrarmos com nossa natureza plena(Ísvara)...mas o que vemos é uma negação desse aspecto...pq: mantrar é perigoso pq pode parecer rito religioso...meditar pode parecer muito "cabeça"...dai as pessoas ficam na superfície...só ãsanas e prãnayamas...e ai ta formado um círculo vicioso...parabéns pelo teu ponto de vista, mas discordo cordialmente...os Mestres aqui citados deram o que têm de melhor para os discípulos encontrarem suas "verdades"...então, busque a sua verdade sendo um discípulo das fontes verdadeiras que vc deve ter privilegiadamente e encontrarás o "mestre" em vc....no mais, respeitemos cada mestre e corrente de Yoga...Ahinsa meu irmão...namaste!
Christian Rocha disse…
Marcos,

não entendi seu comentário.

Você começa dizendo que meu ponto de vista é aceitável, depois diz que discorda dele.

Você começa dizendo que o yoga é um, a União com Isvara, depois diz que há diversas verdades e que cada uma deve ser respeitado.

Você se refere ao fenômeno que afasta o indivíduo dos mantras e da meditação e que o aproxima dos asanas e pranayamas como um círculo vicioso, mas não vejo onde o círculo se fecha, onde há a repetição que caracteriza o círculo.

Você se refere às pessoas que citei como Mestres (curiosa inicial maiúscula), depois diz que o esforço deles foi para que os discípulos buscassem cada um a sua verdade.

São tantas contradições e inconsistências num texto tão curto que eu prefiro crer que você suprimiu várias partes do que pretendia explicar...
José Garajau disse…
Muito bom texto.

Meu guru sempre faz a pergunta:"Por que há tantas linhas de yoga no mundo, tantos inúmeros praticantes, e nao há sequer um iluminado para dar seu exemplo? Pois a tradicionalidade foi quebrada.

Para nós do Ocidente, acima de tudo, o que vale são funcionalismos, imediatismos. Corpo bonito, saúde física e (quem sabe) psíquica.
Laís Madalena disse…
Interessante seu ponto de vista! Tem críticas contundentes para reflexão, mas acho o texto um tanto reativo e inflexível às variáveis, à diversidade e às transformações.

Eu discordo plenamente que a yoga deva ser "comercializada"... Mas, desde que o foco não seja o seu comércio e que a intenção seja altruísta, não importa quais adaptações a prática sofra para atender às necessidades de pessoas diversas, com culturas diversas, e, reitero: "adaptações na prática" (significa dizer a forma como se pratica, melhor adaptada à diversidade; o que não significa reinventar toda a filosofia e princípios da yoga). É claro que nem todas as pessoas aceitariam se cobrir de cinzas mortuárias (como o exemplo citado no texto), mas nem por isso devem ser rechaçadas ao praticar yoga na maneira como melhor lhes convir, ou por seguir alguns princípios e outros não, simplesmente porque algumas coisas lhes convêm e outras não.

Há culturas diversas, pessoas diversas, opiniões diversas, verdades diversas... A reatividade, intolerância e inflexibilidade certamente não fazem parte dos princípios da yoga.

Cada um tem seu tempo próprio para assimilar e aprender a vida, e os caminhos são propriamente adaptados às necessidades diversas.

Concordo que seja de extrema importância alertar as pessoas dos desvios tortuosos que sofrem a prática da yoga. Mas, para mim, seria apenas "um alerta", como de um mestre que dá dicas ao aprendiz e o deixa livre para assimilar o ensinamento em seu tempo próprio! Ainda assim, um mestre sabe da mutabilidade da vida e é flexível o bastante para reconhecer que o aprendiz pode não só assimilar seus ensinamentos como também aprimorá-los e adapta-los às constantes necessidades que vão surgindo. É assim que a história e evolução se constroem, e cada tempo guarda sua "pérola".

Por fim, finalizo me precavendo de que este foi apenas um comentário compartilhando opiniões diferentes, e jamais com a intenção de rebater a crítica do seu texto.

Namastê!

Tomaz Aldano disse…
Quando se subdividiu o yoga ou a yoga...ja começou a desvirtualização!...yoga disso yoga daquilo,...o titulo yoga ja define tudo!..."união do todo em ti"...por tudo que estudei em yoga ficou bem claro para mim,..."todas as partes de ti em ti"...ai vem alguem e começa a dividir tudo de novo!...so entendo yoga como uma escola da vida que se propõe a reunir todos os fragmentos do nosso ser novamente,,...tornando-o novamente um ser integral.
Urgi voltar-mus ao yoga como ele é!...mais isso é uma tarefa realmente para aquele que acorda!...unir o yoga novamente!....parece brincadeira...unir o yoga ou a yoga!..a tradução do da yoga não é "unir união"...portanto a fragmentação começou la quando alguem inventou "yoga daquilo".
Christian Rocha disse…
Laís,

o problema é, na verdade, mais simples do que parece. Trata-se de ter clareza nos objetivos e de usar os nomes corretos.

Por exemplo, você diz:

«praticar yoga na maneira como melhor lhes convir» (sic)

Isto nem de longe é compatível com a tradição. Aliás, uma das condições para aproximar-se de uma tradição é justamente deixar de lado o que convém, porque não se trata de obter conforto e satisfação, mas de realizar yoga, isto é, de praticar samadhi com o objetivo de conquistar moksha.

Resta saber se eu e você estamos falando do mesmo objeto. O que realmente causa confusão é ter uma tradição de um lado e um sistema de bem-estar do outro, ignorar as diferenças entre essas duas coisas e chamá-las pelo mesmo nome. Esta é a situação do yoga hoje.
Laís Madalena disse…
Interessante seu ponto de vista! Tem críticas contundentes para reflexão, mas acho o texto um tanto reativo e inflexível às variáveis, à diversidade e às transformações.

Eu concordo que existem bizarrias acontecendo com a yoga, e discordo plenamente que a yoga deva ser "comercializada"... Mas, desde que o foco não seja o seu comércio e que a intenção seja altruísta, não importa quais adaptações a prática sofra para atender às necessidades de pessoas diversas, com culturas diversas, e, reitero: "adaptações na prática" (significa dizer a forma como se pratica, melhor adaptada à diversidade; o que não significa reinventar toda a filosofia e princípios da yoga). É claro e evidente que nem todas as pessoas aceitariam se cobrir de cinzas mortuárias (como o exemplo citado no texto), mas nem por isso devem ser rechaçadas ao praticar yoga na maneira como melhor lhes convir, ou por seguir alguns princípios e outros não, simplesmente porque algumas coisas lhes convêm e outras não.
O que gostaria de enfatizar é que as críticas devem ser construtivas e não soar como rechaça e sermão a quem não pratica fielmente todos os princípios da yoga em sua origem, ou a quem faça adaptações sendo taxado de deturpador da yoga mesmo que com boas intenções.

Há culturas diversas, pessoas diversas, opiniões diversas, verdades diversas... A reatividade, intolerância e inflexibilidade certamente não fazem parte dos princípios da yoga.

Cada um tem seu tempo próprio para assimilar e aprender a vida, e os caminhos são propriamente adaptados às necessidades diversas.

Concordo que seja de extrema importância alertar as pessoas dos desvios tortuosos que sofre a prática da yoga. Mas, em minha opinião, seria apenas "um alerta", como de um mestre que dá dicas ao aprendiz e o deixa livre para assimilar o ensinamento em seu tempo próprio! Ainda assim, um mestre sabe da mutabilidade da vida e é flexível o bastante para reconhecer que o aprendiz pode não só assimilar seus ensinamentos como também aprimorá-los e adapta-los às constantes transformações das necessidades. É assim que a história e evolução se constroem, e cada tempo guarda sua "pérola".
Em minha experiência como praticante e instrutora de yoga, eu pude perceber que há pessoas que quando convidadas a praticar yoga como ela é praticada nas tradicionais culturas, dificilmente tem abertura, aceitação e quão menos perseverança pra praticá-la. Logo, esta pessoa dispensa a oportunidade. Mas, quando instigada a praticar só os ásanas e pranayamas adaptados à sua realidade porque isso vai lhe trazer mais paz de espírito, ou saúde, ou equilíbrio, ou sabedoria, ou qualquer outra coisa positiva, estas pessoas praticam com perseverança e dão o primeiro passo de abertura para aprofundar na prática e quem sabe um dia querer seguir a tradição da yoga, ou, simplesmente permanecem apenas praticando algumas coisas e só isso já lhes torna pessoas melhores.

Por fim, finalizo me precavendo de que este foi apenas um comentário compartilhando opiniões diferentes, e jamais com a intenção de rebater a crítica do seu texto. A minha opinião é a de que EU tomaria os devidos cuidados ao criticar SIM as deturpações da yoga, mas me policiando para não ofender ou coibir a quem pratica yoga com bons propósitos mesmo que não seja na maneira tradicional.

Namastê!
Laís Madalena disse…
Sim... concordo com você neste ponto de vista!
Mas concordo também que, a depender da personalidade da pessoa, independente da forma como ela pratica yoga ela alcança os mesmos objetivos da tradicional prática da yoga. Isso é totalmente possível...
Mas aí sim concordo com você que talvez devíamos mudar os nomes das práticas, onde uma seria yoga e a outra, uma prática que se apropria de alguns princípios da yoga. Mas isso só teria efeito para a preservação da tradição, porque em termos de objetivos elas podem ser a mesma coisa, independente dos meios.
Unknown disse…
..."menos o de Swástya"... foi ótima! (ri alto! desculpa, mas ri!)
Christian Rocha disse…
«Mas isso só teria efeito para a preservação da tradição, porque em termos de objetivos elas podem ser a mesma coisa, independente dos meios.»

Podem ser, mas não são. Quantas pessoas você conhece que chegaram a moksha com disciplinas de fortalecimento da auto-estima? Não há iluminados entre os discípulos de Iyengar, de Jois, de DeRose, muito menos de Bikram, de Shiva Rea, de John Friend.

Não há yoga em pelo menos metade do que o Ocidente chama de yoga. Logo, também não faz sentido em falar de preservação da tradição. A tradição mal chegou ao Ocidente.
Luciana Silveira disse…
Diz o ditado: "quando o aluno esta pronto o mestre aparece." No yoga somos nosso proprio mestre. Existem escolas e escolas, mestres e mestres, como em toda profissão ou como filosofia yoga tem charlatões e profissionais sérios e competentes. Se com o passar dos anos exitiram modificações para melhor ou pior, terá de ser competência do aluno julgar. Nós praticantes de yoga podemos orientar e mesmo assim tendo consciência de que aqui no ocidente a diferença da pratica é muito grande, até por nossa cultura, bem menos espiritual que os indianos.
Christian Rocha disse…
Eu também pensava assim, Luciana. Svecchachara só é possível para quem teve algum contato com um verdadeiro praticante de yoga e dele recebeu algum ensinamento. Em outras palavras, a liberdade no yoga só é possível para quem sabe o que é yoga, para quem reconhece no samadhi o principío e o fim do yoga.

Antes disso, isto é, sem qualquer conexão com a tradição, a prática do yoga torna-se a brincadeira de mau gosto em que ele se tornou.
Christian Rocha disse…
Por falar nisso:

1. Yoga ain’t safe. Sorry, it just ain’t. Now, stop being a baby, act like an adult, and take responsibility for your behavior during said enterprises.

2. ”I am my own guru” is a stupid thing to get behind. I know a lot of people, most of whom aren’t guru enough to be worthy of posting a photo of their dinner on Instagram. Check yourself.

http://thebabarazzi.com/2013/08/15/yoga-is-safe-and-other-ridiculous-ideas/
miranda yoga disse…
Christian, por favor, me fale então qual é a escola,os mestres e os livros autênticos de Yoga?
miranda yoga disse…
Christian,por favor,me responda: Quais são as escolas,mestres e textos autênticos do Yoga?
Christian Rocha disse…
Miranda,

desculpe, mas sua pergunta não é sincera.

Você não tem interesse sincero em uma eventual recomendação minha sobre escolas, mestres e livros autênticos. Você espera confirmar o que você já sabe, comparar minhas respostas com o seu conhecimento, enfim, estabelecer suas crenças em algum ponto em relação às minhas crenças.

É claro que nada disso tem a menor importância. Se eu mesmo desse alguma importância às minhas recomendações eu as faria com mais constância, método e alarde.

Se você tivesse interesse sincero em minhas recomendações, saberia, por exemplo, que já as fiz aqui em meu site. Saberia também que afastar-se do que não é autêntico é mais importante do que aproximar-se do que é autêntico. Saberia, ainda, o que há de autêntico em livros, escolas e mestres e, portanto, não me perguntaria tal coisa.
Rodrigo Felipe disse…
O que voce acha da sahaja yoga
miranda yoga disse…
Há dezenas de manuscritos em bibliotecas particulares da India que podem mudar
a visão atual sobre Yoga!!! Penso que o lendário texto "perdido"Hatha Yoga vai ser
redescoberto ou por um pesquisador ou de uma forma esotérica por um adepto avançado. Yogi Miranda.
Christian Rocha disse…
«...podem mudar a visão atual sobre yoga!!!»
«Penso que...»
«...o lendário texto (...) vai ser redescoberto»
«...ou... ou...»
«...de uma forma esotérica por um adepto avançado» [essa foi forte]

Miranda,
há mais de um século o yoga no ocidente tem sido uma sucessão de achismos e salamaleques retóricos. Faça um esforço para que a situação não piore.
Quil disse…
eheheheheh… “Faça um esforço para que a situação não piore.”
Não sei disse…
Bom dia Christian!
Gostei muito da sua explicação, e antes já pensava da mesma forma. Sou pouco conhecedora e estou tentando recolher matérias sobre tal assunto, livros, porque pretendo começar a prática, mas vejo muito forte nas explicações a parte do corpo e não e isso que procuro, lógico que o Yoga em si trabalha o corpo, mas vejo que tudo vem como complemento o foco principal não e esse. Os cursos aqui onde moro são absurdamente caros, dando privilégio a elite, dando ainda mais força a falta de humanidade. Queria estudar e me tornar uma instrutora de yoga com preços acessíveis as pessoas, dizem que somo um só, mas em questão a dinheiro ninguém é. Eu gostaria de te pedir algo, que você me indicasse livros que ensinem verdadeiramente o yoga, qual a diferença entre Hatha e Vinyasa yoga. Grata!
Parabéns pela matéria.
Christian Rocha disse…
Sobre livros, existe um problema importante.

Os livros que se prestam a ensinar o yoga são todos atuais e dirão que o yoga é um sistema de bem-estar, subscrevendo todos os métodos modernos.

Os livros que realmente são fiéis à tradição, para lê-los recomenda-se a orientação de um guru, já que se trata de literatura para iniciados, não para iniciantes.

Em todo caso e com um pouco de cautela e atenção é possível aprender muito com leituras como o Bhagavad Gita, os Upanishads do Yoga, os Yoga Sutras e o Hatha Yoga Pradipika.

Depois dessas leituras o autodidata poderá ler -- com ainda mais cautela -- alguns livros atuais, de preferência apenas com o objetivo de encontrar algum respaldo técnico para a prática corporal.
brazilianflora disse…
Christian tenho em casa um livro chamado "Meditação" de Mouni Sadhu, você conhece? Se sim, é bom? E também, o que você indicaria para conhecer mais sobre o Samadhi? Christian, você poderia indicar um alguém em SP que possa ensinar a prática? Obrigada
Jacqueline
Unknown disse…
Tudo que chega ao ocidente, se desvia do caminho...
Hargreaves disse…
interessante, estudando. namaste.
Célio Augusto disse…
Bem... Todos os praticantes que eu conheço procuraram o yoga como terapia ou atividade fisica com o objetivo de ter melhor qualidade de vida (nesta vida) e não vejo nenhum problema nisso.Vendem exatamente o que divulgam
Mariana Britto disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse…
Bom dia Christian concordo com a sua exposição. Porém temos que ter bastante cautela ao julgar, pois não somos o dono da verdade. O meu entedimento de Yoga é bem abrangente, é muito mais do que práticas para desobstrução dos canais sutis e eliminação de nós. O Yoga inicia-se, no meu ponto de vista, quando o ser começa a perceber que não está completo. Não sei de onde ouvi essa frase, mas ficou gravada: "YOGA SEM TRANSFORMAÇÃO, NÃO É YOGA". Essa necessecidade de se auto-conhecer é que eu acredito levar a MAIORIA dos indivíduos a buscar uma linha de YOGA. Obviamente, irá se indentificar com alguma linha que lhe atenda os desejos. Isso, a princípio, é natural pois somos levados por desejos. Pois nós, pessoas normais, não somos o "observador" ainda, preso no Maya, apegado ao EGO e conduzidos pelos ventos sutis originados pelas sementes kármicas. O que estou querendo dizer, , é que independente da linha de Yoga, o mais importante é a necessidade do auto-conhecimento, servindo de alimento para a jornada espiritual em busca da "CLARA LUZ". O desapego do EGO, a percepçao do Maya, o encontro do EU MAIOR, se dará a todos os seres no seu no seu tempo. Uma discursão a respeito das linhas do Yoga, não acredito que vá levar a lugar algum. É que nem religião e política. Cada um tem uma percepção e todas são válidas. O mas importante é se tornar um ser humano que leve amor e paz por onde passa. Também acho muito importante respeitar as tradições, inclusiva a nossa nativa, pois nelas há bastante significados, as vezes obscuros pela nossa ignorância, que nos conduzem melhor para o caminho da iluminação. As vezes as coisas podem parecer contraditórias, pois a luz da mente tudo é dualidade, mas na verdade elas se completam.

Namaste!
Christian Rocha disse…
Olá, Fábio.

Primeiramente, obrigado pelo comentário. Vamos lá.

Sua digressão ia bem, até que chegamos nisto:

«O que estou querendo dizer, , é que independente da linha de Yoga, o mais importante é a necessidade do auto-conhecimento, servindo de alimento para a jornada espiritual em busca da "CLARA LUZ". O desapego do EGO, a percepçao do Maya, o encontro do EU MAIOR, se dará a todos os seres no seu no seu tempo.»

Entendo sua intenção, mas sua expressão revela muita, mas muita confusão acerca dos principais pontos do artigo. Por partes:

1) No campo estrito dos pressupostos deste artigo não existe «indepedente da linha de yoga» (sic) porque o que está em discussão é justamente a validade e a infinidade de linhas que têm sido propostas ao longo dos últimos 100 anos.

2) Dizer que o mais importante é a «necessidade de auto-conhecimento» (sic) é o mesmo que dizer que o mais importante é «o amor» ou «Shiva» ou «Luz» ou «Paz» ou qualquer outra expressão que você citou -- são expressões vazias, que só têm valor como slogans. Só que um dos pontos principais do yoga trata justamente de COMO desenvolver auto-conhecimento, COMO obter paz, COMO tornar-se amoroso, COMO receber luz etc. Slogan não leva a nada.

3) Eu gostaria que você me explicasse como é possível «respeitar as tradições» -- mais especificamente, a tradição do yoga, que é o foco deste site -- sem dar uma olhadinha em como certas coisas são feitas, sem buscar compreender como essa tradição se realiza e como ela tem se perpetuado. Caso esteja disposto a explicar isso, note que o olhar atento às «linhas» de yoga é um passo importante para, pelo contraste, poder enxergar a tradição.

4) Eu gostaria que você me explicasse também o que é «EU MAIOR».

Valeu!
Unknown disse…
Boa tarde Christian,

Obrigado pelo retorno do meu comentário!

De início, quero deixar claro que defendo o respeito às tradições de forma integral. E acho que elas devem ser transmitidas de forma original. Porém, para alcançar o ocidente e o estado do mundo atual acredito não ser totalmente possível.

Em relação as expressões que citei, cada uma delas tem bastante significado para mim. NÃO são slogans para mim. Respeito sua opnião, mas acredito que é ai que está o equivoco. O pré julgamento. Não são expressões vazias. Mas tudo bem, isso não é o importante.

O que eu queria transmitir, mas as palavras limitam, é que "eu acredito" que nós somos guiados a procurar a tradição original, sem distorções, assim como você procura, quando estamos "sintonizados" com ela. Assim como quem procura as distorções é por que estão sintonizados com elas. Não vejo nada de mal. Sei que pode parecer extrapolação, mas eu percebo que o caminho espiritual é empírico e não científico.

Talvez não tanto quanto você, estudei bastante e ainda estudo tentando encontrar a origem desta tradição, por isso cheguei ao seu site. Percebo que até entre os mais estudioso há divergências.

O que eu entendo por "EU MAIOR" é a noção de "EU" desprendida do EGO. A essência do ser. Pode parecer slogans aos olhos de muitos, mas pra min não.

Um forte e sincero abraço!

Terenic disse…
“Você não poderá conhecer o verdadeiro significado da sua própria vida enquanto não estiver conectado com o Poder que o criou”.
(Shri Mataji Nirmala Devi)