De acordo com a tradição, é possível atingir kaivalya pela bênção do guru ou pelo esforço próprio e dedicação aos ritos tradicionais (sadhana). Além disso, entre aqueles que se dedicam à sadhana há aqueles que avançam rapidamente a kaivalya e há aqueles aos quais cada anga exige um longo tempo. Logo, de fato, sob o ponto de vista disciplinar, não é estritamente necessário o samadhi para se chegar a kaivalya.
Se tomarmos samadhi como «último estágio ou requisito disciplinar antes da iluminação», veremos que isso existe em outras tradições, sob diversos nomes e formas. A oração cristã, sobretudo como conduzida por monges ortodoxos e trapistas, constitui uma prática com alguns resultados semelhantes aos do samadhi. O mesmo vale para algumas práticas budistas em suas diversas linhas -- a prática do zazen, por exemplo, tem muitas semelhanças com a prática do samadhi. Contudo, embora as práticas se assemelhem, as diferenças práticas e filosóficas/doutrinárias também devem ser observadas.
Por outro lado, é possível perguntar: até que ponto o samadhi faz sentido se extraído do ashtanga sadhana? O samadhi, tal como explicado por Patañjali, pressupõe sua inserção no sutra (teia ou sistema) e é isto que lhe dá sentido.
Com efeito, sob o ponto de vista disciplinar, a prática da meditação profunda pressupõe a resolução de questões básicas, como conflitos morais e bloqueios corporais -- como previsto no ashtanga sadhana. Se somarmos a isso as idéias de alguns estudiosos que afirmam que o yoga de Patañjali já trazia elementos do Tantra, as coisas ficam ainda mais complicadas e neste caso faria ainda menos sentido encarar o samadhi como uma prática isolada do ashtanga sadhana.
Em resumo, se você já está em kaivalya, a prática do samadhi torna-se opcional. Se você não está em kaivalya, o ashtanga sadhana certamente o ajudará -- inclusive na necessária tarefa de observar crenças sobre samadhi e kaivalya e distingui-las (à maneira do Atma-Vichara de Ramana Maharshi).
Comentários